terça-feira, 14 de agosto de 2007

MANIFESTO SUBCULTURAL

Inspirada em uma conversa com um amigo, resolvi que é melhor desabafar o que me aflige do que carregar isso por tanto tempo.

O camarada veio me questionar sobre produção de shows, sobre prejuízos, e que talvez a escolha de bandas possa atrapalhar. Ta, então vamos lá:

“Prejuízo” e “show vazio” são novidades pra mim. Até hoje, ainda bem, tive muito sucesso (ou sorte?) nos meus eventos (para os desavisados que acham que entrei nessa vida ontem: eventos esses que eu faço desde os 15 anos, onde já fiz shows com bandas como Riotters, DxDxOx, Chawk Shayra, Bizarro’s e etc.). Sábado passado, isso tudo mudou e eu tive uma das maiores vergonhas da minha vida, pois vendi pros caras do Dead Rocks que Campo Grande tinha uma cena rock daquelas, que eu achava que tinha. E eu tinha certeza que o público Punk se misturaria com o público Blues e se pá até com o Pop, pra ver o puta show que aqueles caras fizeram. A verdade foi que o show foi um fiasco. Correção, o show em si foi DO CARALHO, como eu já tinha visto e esperava. Mas se tinha 50 pessoas no local era muito. Agora, fico aqui pensando: Por que? Por quê diabos o campograndense ainda prefere ver uma banda COVER e voltar pra casa sem ter acrescentado NADA na sua vida? Ou ainda, por que o público de Campo Grande prefere ficar EM CASA sem nada pra fazer, do que ir num show de uma banda só porque simplesmente nunca ouviu falar?

A verdade é que eu nunca vou ficar sabendo o que se passa na cabeça da galera. O que passa na minha eu abro aqui pra quem quiser saber, sujeito a críticas, zoações e até apoio (espero).

Montando a Bigorna Produções, a minha intenção era tentar integrar a cena rock independente de Campo Grande. Aí, voltando na conversa com meu amigo, ele me disse que seria muito difícil achar interesses em comum nessa galera toda, e eu me projetei a convencê-lo ao contrário disso. Assim como faço agora, apresentando pelo menos três tópicos que eu tenho certeza que é de interesse da maioria que se interessa pela causa “rock”:

1- Um bar com entrada e cerveja barata, com som rolando todos os dias, nem que seja mecânico, espaço para as bandas independentes de trabalho AUTORAL da cidade e fluxo intenso de bandas de fora.

2- Um (ou mais) Festival Independente com estrutura de médio porte. Ainda com vários nomes nacionais do rock independente em geral, presença de imprensa especializada (música, subculturas) e espaço para as bandas daqui mostrarem seu trabalho e cultivarem o intercâmbio cultural.

3- Selos realmente ativos (nada contra as tentativas existentes). Onde as bandas consigam prensar seus albúms com mais facilidade e distribuição nacional de seu trabalho.

Mas o grande problema é que só uma produtora não consegue cuidar do interesse de geral, uma só produtora não consegue produzir metal, punk, indie, abilly, hardcore, blues e etc, ao mesmo tempo. No que me cabe como produtora e como roqueira, trago as bandas que julgo BOAS e as bandas que eu GOSTO, claro. Nada mais natural do que seguir meu gosto, aliado à várias outras qualidades e interesses.

O ideal seria se o público se interessasse pelo novo sem discutir o porque. Se é nova, vamos ver se é boa. Se é de fora, vamos prestigiar e mostrar que somos uma cidade Rock and Roll. Se é daqui, vamos dar apoio aos nossos comparsas. Porque é só assim que uma cena cresce. É só assim que a coisa se fortalece e acontece com naturalidade.

Vamos largar esse rótulo ridículo de ser a capital menos rock do centro-oeste. Vamos fazer vários festivais, vários shows, várias produções. Coisas de qualidade, porque essa história de que o underground é sujo, feio e tosco é LENDA. O underground é aquilo que a gente quiser que seja, porque é a gente que faz. E se a gente continuar fazendo gravação ruim, com material gráfico péssimo, com preconceitos com outras “subculturas” e tretinhas ridículas, vai tudo continuar como ta, e se duvidar, vai piorar. E há quem diga (por aqui e até fora daqui) que se essa mudança não acontecer agora, não vai acontecer mais.

O Brasil tem urgência de uma cena PANTANEIRA que seja organizada, grande e de qualidade. A integração não é só municipal, é nacional. Todo mundo ta se mexendo para que as relações entre as bandas e o público sejam cada vez mais estreitas e mais proveitosas.

Vamos largar a mania de achar que R$7,00, R$10,00 reais é caro pra ter uma ótima noite de diversão, quando vários de nós paga até mais pra ir numa festinha open bar fútil pra caralho.

Vamos nos organizar, Produtores, Bandas e Públicos até encontrarmos o tal do interesse em comum da classe para o defendermos perante as empresas privadas e o governo da nossa cidade e do nosso estado que não nos apóia como deveriam.

Vamos mostrar que o roqueiro campograndense é engajado e interessado e não vagabundo, desempregado, drogado e encostado como vários pensam.

Underground, Alternativo, Independente ou seja o que for tudo pra representar a mesma, uma minoria que é cada vez maior, uma minoria que pensa e que tem coisa pra dizer e pra mostrar. O conjunto de várias subculturas que envolvem não só música e visual, e sim cinema, arte, e até carreira profissional. Um coletivo que não se contenta com o “resto” tem pra oferecer.

Muito mais que rolêzinhos rock and roll, a gente tem que viver uma VIDA rock and roll.

É isso aí, que jogue a primeira pedra quem nunca pensou em nenhuma dessas coisas que eu disse aqui. Isso se alguém chegou até o fim desse texto.

Escrevi ao som de BLACK DRAWING CHALKS, banda goiana, nacional, que dá surra em muita bandinha gringa por aí.